sábado, 15 de fevereiro de 2014

Sobre a Astrologia Védica



O que é a Astrologia Védica?
A Astrologia Védica – em sânscrito, Jyotiṣa – faz parte do conhecimento védico. Considerando os Vedas como um corpo de conhecimento, a Jyotiṣa faz o papel dos olhos. É através dos olhos que reconhecemos a luz e, pela luz, dissipamos o medo e a ignorância. A Jyotiṣa é a ciência que contém os princípios que permitem ao astrólogo interpretar a realidade e compreender a qualidade do tempo; quando aplicamos estes princípios aos seres animados e inanimados, temos o ramo da astrologia chamado de hora, de onde derivou-se a palavra horóscopo – e a partir dele podemos analisar todos os campos da vida da pessoa e além disso buscar as medidas corretivas onde for necessário.

Qual a diferença entre a Astrologia Védica e a Astrologia ocidental?
Existe uma diferença de paradigma muito grande entre as duas vertentes astrológicas. No ocidente, a Astrologia é fortemente experimental e intuitiva, e é dividida entre várias vertentes (new age, moderna, medieval, tradicional etc). Já a Astrologia Védica faz parte de um corpus de conhecimento, e é transmitida tradicionalmente através de uma linhagem baseada na relação mestre/discípulo (Parāmpara). Na prática, vemos que a Astrologia Védica tem como proposta a utilização de remédios astrológicos (mantras, pedras preciosas, doações) para amenizar, sanar ou favorecer determinada área da vida onde as promessas não sejam condizentes à satisfação pessoal, com uma abordagem integrativa de todo o conhecimento védico, que tem como objetivo último a satisfação dos desejos materiais para, por fim, alcançar a transcendência.

Em que aspectos da vida a pessoa pode ser beneficiada pela Astrologia Védica?
Jyotiṣa é uma ferramenta sem igual e permite o benefício pessoal em vários níveis. A partir de um ponto de vista externo, vemos que a maioria das pessoas se preocupam com vocação, estudos, carreira, finanças, relacionamentos, desfrute, família, e espiritualidade. A partir de um ponto de vista interno, vemos como cada uma dessas áreas se conecta, dando a possibilidade de se experimentar a verdadeira yoga (união), quando encontramos o nosso ritmo natural e reconhecemos onde nos situamos em nosso processo evolutivo. A Astrologia Védica associada à uma prática espiritual legítima auxilia a superação dos obstáculos que surgem em nossas vidas e possibilita uma vida plena e satisfeita.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Os Orixás e os Planetas

Este é um artigo de Freedom Cole sobre os orixás e os planetas, traduzido com sua permissão. O original pode ser lido aqui.


Os arquétipos dos planetas manifestam-se em todas as culturas e religiões... É isso que mostra sua realidade. A religião Ioruba por vezes assusta indivíduos que estão acostumados a uma religião que é um serviço entediante na igreja aos domingos. As deidades e as maneiras com que os praticantes interagem com elas podem parecer estrangeiras e não são fáceis de entender, mas elas possuem muitas similaridades com o Hindu/Tântrico e deidades planetárias (particularmente como são adoradas nas áreas mais tradicionais e tribais da Índia e Nepal). As deidades africanas são conhecidas como Orixás (Òrìṣà).

A religião Ioruba da África Ocidental se espalhou ao redor do mundo ganhando sabores próprios de acordo com a cultura local. Ela chama-se Santeria em Cuba, Porto Rico e República Dominicana, e Candomblé, Umbanda e Batuque no Brasil. Todas essas várias formas da religião advinda da África Ocidental possuem suas próprias variações específicas, mas utilizam um panteão similar que correlaciono aqui para a utilização do astrólogo. Não tenho a intenção de ensinar nenhuma dessas formas de religião africana, mas um astrólogo pode ser mais efetivo quando utilizando o panteão do cliente. Essas correlações possibilitam que um indivíduo seguindo uma espiritualidade de origem africana possa contatar o sacerdote apropriado em seu próprio caminho.

Um Deus

Na astrologia indiana, a singularidade divina da Suprema Personalidade de Deus individualizou-se e manifestou-se como os planetas para proteger o dharma; eles são avatares de uma Singularidade Unificadora. Na astrologia judaico-cristã, os planetas eram considerados anjos, mensageiros da vontade de Deus. Os planetas não são considerados “deuses” na acepção da palavra inglesa cristianizada. Da mesma maneira, as religiões advindas da África Ocidental possuem um Ser Supremo e os vários Òrìṣà (
devatās) são os veículos para a manifestação das energias que o astrólogo percebe nos planetas.

Nas religiões baseadas no Ioruba, o Ser Supremo possui três manifestações primárias: como Olodumare, o Criador, como Olorun, o regente dos céus, e como Olofi, que é o meio ativo entre Orun (céu) e Ayé (terra). É similar aos níveis de Vāsudeva em Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha na filosofia Bhagavata.
Quando o Sol é visto como o símbolo do Ser Supremo (Brahman) ele se associa com Olodumare, a fonte de nosso destino. Quando o Sol é chamado de sarvātma (a alma de todos os seres), e se manifesta como o prāṇa chamado atman em um ser individual, a energia vital de Olòrún manifesta-se nos humanos como Ashé (Axé). Olofi é a forma do divino que podemos interagir e que rege os Òrìṣà (devatās).

Sol


O Sol manifesta-se como Oxalá ou Obatalá (Obàtálá) e é conhecido como a essência da claridade, ele sempre veste branco e ilumina a verdade e a correição moral. Ele é o mais velho de todos os
Òrìṣà e criador dos corpos humanos. Ele é chamado de Alabalase – Aquele que possui a autoridade divina, Baba Arugbo – Antigo Mestre ou Pai, e Orisanla (Oshanla) – a arque divindade.  








Lua



A Lua manifesta-se como Yamaya, também escrito como Yemoja, Ymoja, Yemowo, Yemalla, Yemana, Yemoja, Iemanjá, Janaína, Yemaya, Yemayah, Iemanya, Madre Agua, La Sirène e LaSiren. Ela é o espírito da maternidade, Mãe das águas e do oceano (Rainha do Oceano). Ela é o líquido amniótico no útero da mulher grávida, bem como os seios, pois ela é a Nutridora. Ela é a energia protetora da força feminina e chamada de espírito da Luz da Lua. Ela se associa com uma tigela (tinaja), similar à Annapūrṇa e geralmente da cor da água (azul claro).

Ela possui muitas formas diferentes, como a Lua possui muitas fases diferentes:

·         Ogunte: Nessa qualidade ela é uma guerreira, com um cinto de armas de ferro como Ogun. Vive pelas costas rochosas. Suas cores são cristalinas, azul escura e algum vermelho.
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Asesu: Nessa qualidade é muito velha. Diz-se sobre Ela que é surda e responde apenas seus patronos. Ela associa-se com patos e a imobilidade das águas estagnadas. Suas cores são azul pálido e coral.
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Okoto: Nessa qualidade é conhecida como a assassina sobre as águas. Suas cores são índigo e vermelho sangue e seu simbolismo inclui àquele dos piratas.
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Majalewo: Nessa qualidade vive na floresta com o Òrìṣà curandeiro, Osanyin. Ela associa-se com o mercado e seus santuários são decorados com 21 pratos. Suas cores são verde escuro azulado e turquesa.
·         Ibu Aro: Nessa qualidade é similar ao Majalewo no sentido que ela associa-se com mercados, comércio e seus santuários são decorados com pratos. Suas cores são mais escuras: índigo, cristal e coral vermelho. Sua coroa (e marido) é o Òrìṣà Oshumare, o arco-íris.
·         Ashaba: Dizem que essa qualidade é tão bela que nenhum humano pode olhar para ela diretamente.
Olokun é outro Òrìṣà associado com o mar, retratado como um homem em alguns lugares e como uma mulher em outros. A energia é muito similar à de Varuṇa, uma vez que este Òrìṣà representa a sabedoria imensurável e a profundidade do oceano. Ele é descrito como magnífico, muito sério e, ainda sim, profundamente espiritualizado e meditativo. Seu papel é o de ajudar humanos a passarem para o reino dos ancestrais (Eggun).

Marte



Marte manifesta-se como Ogum (Ogun), Senhor dos Metais (especificamente ferro), Minerais, Ferramentas, Guerra, caçada, feras selvagens, acidentes e guerra. Ele pode ser agressivamente masculino e é associado com sangue, portanto é comumente chamado para curar doenças do sangue. Sua arma é um machete e ele também associa-se com outras armas feitas de ferro.

Oxóssi (Oshosi, Ochosi, Ososi, Oxosi ou Osawsi) associa-se algumas vezes com Júpiter, mas eu o relaciono mais com um aspecto de Marte. Ele associa-se com prisões, justiça e aqueles que são perseguidos. Ele é um mago e seu nome literalmente significa “aquele que trabalha com magia”. Ele é uma figura solitária na selva, um caçador e um xamã. Ele carrega um arco e flecha e está conectado com as comunidades caçadoras. Oxóssi é conhecido como um aliado dos espíritos da natureza (caboclos) da floresta e, dessa maneira, ele tem um papel similar ao de Shiva (Júpiter) que é visto como um recluso na floresta.

Ṣàngó (Xango, Xangô, Chango , Shango, Xango, Sango) é o Òrìṣà do relâmpago. Ele vem sendo associado com Mercúrio por algumas pessoas, mas no panteão hindu parece mais com Bhagavan Rāma ou Parasurama. Ele foi um guerreiro rei (quarto rei do Ioruba imortalizado), cujo símbolo é o machado duplo. Ele associa-se com masculinidade, virilidade, relâmpago, pedras e é invocado por aqueles buscando justiça.

Mercúrio



Mercúrio manifesta-se através de Èṣù ou ExuEchu, (Elegua, Eleggua, ElegbaraElegbaLegbaPapa Legba e Eleda). Ele é linguista de Olorun e o mestre das línguas, portanto ele é o mensageiro. Ele relaciona-se com encruzilhadas, portões, novas atividades e é chamado de Abridor de Caminhos. Ele é o Òrìṣà da chance e imprevisibilidade, e é conhecido como um enganador. Dele também se diz que ajuda em aumentar o poder advindo de ervas medicinais.

Èṣù é da umbanda brasileira, Eshu é de Santería Lucumi e Legba vem da tradição vudu haitiana. Os nomes se correlacionam aqui, mas as formas particulares destes Òrìṣà variam em suas respectivas culturas. Cada um também possui muitas formas (chamadas de caminhos), como o Elegua do rio, o Elegua da casa, ou o Elegua  
 da estrada. Cada forma tem variações, diferentes vestimentas e oferendas dentro das tradições. Então não basta simplesmente dizer “aqui está” para se entender, portanto é importante se lembrar de que este é um guia superficial, apenas para direcionar os clientes dessa prática para um sacerdote apropriado que possa assisti-los.

A consorte de Èṣù é conhecida como Pomba Gira pelos praticantes de umbanda e quimbanda no Brasil. Ela é uma bela mulher que personifica a beleza feminina, sexualidade e desejo. Ela é conectada com mulheres e adoradores gays e invocadas em questões de amor.
Existem muitos Orixás adicionais, como Aja, patrono da floresta, seus animais e curandeiros que utilizam ervas. Ela é a professora das artes com ervas e pode ser associada indiretamente com Mercúrio (ou Dhanvantari).

Júpiter


Júpiter manifesta-se através de Orunmila (Orula, Orunla), que é o Grande Sacerdote Ioruba. Referem-se a ele como Agbonniregun, a personificação do conhecimento e sabedoria. Ele associa-se com a divinação, chamado Eleri Ipin (testemunha do destino) e guardião do oráculo Ifa. Orunmila é estimado como sendo mais efetivo que outros remédios. Ele associa-se com o ejuele (rosário ou mala) e seu rosário é feito de amarelo e verde. Ele associa-se com madeira e uma vasilha de cedro é utilizada em sua adoração.

Vênus


Vênus manifesta-se como Oshun (Ochún ou Ochun) e é retratada como uma bela mulher em um vestido amarelo. Ela é o Orixá da água fresca e associa-se com as forças cosmológicas da água, humidade e movimento fluido.  Ela é o Orixá do amor, beleza, atração e sexualidade. Ela associa-se com dança e é geralmente retratada como dançando eroticamente. Ela rege o casamento, a fertilidade, o controle da essência feminina e oram para que ela alivie desordens femininas.

Saturno


Saturno manifesta-se através de Omulu, o Senhor da Morte e Doença. Ele é invocado quando alguém está doente para se conseguir uma cura. Ele também é conhecido como Babalu Aye (Babaluaye). Ele relaciona-se a doenças e especificamente à epidemias.  Originalmente ele era relacionado ao sarampo, mas hoje em dia é invocado para lidar com influenza, hanseníase e HIV/AIDS. Ele pune com doenças e recompensa com saúde. Ele é chamado de “Ira do deus supremo” e seu trabalho é punir transgressões. Ele é manco e ele passa por um período de exílio da sociedade por quebrar contratos sociais. Ele mostra o espaço de se cair para um ponto baixo e depois se elevar novamente para cima.

Rāhu



Rāhu manifesta-se através de Oduuw,a também chamado Oduwa, Oodua, Odudua ou Eleduwa), que é a energia rival à energia solar de Obatala. Ele é o irmão mais novo de Obatala que usurpou sua posição e tomou a capacidade de criar a Terra no oceano primordial.

A energia feminina de Rāhu (similar à Chinnamasta ou Vajrayogini)  manifesta-se através da forma chamada de Oya (Oiá, Iansã, Iansan). Ela é o Orixá do vento, relâmpago, mágica bem como a comoção das feiras. Ela representa o caos da tempestade e mudanças drásticas e repentinas. Ela conecta-se com o renascimento, uma facilitadora da transição e protetora dos portões dos cemitérios. Ela cria furacões e tornados (seu vestido gira enquanto ela dança) e é geralmente vista com seu marido, Xangô, que o Orixá do relâmpago. Ela é descrita como tendo olhos grandes e abertos, roupa colorida, um rabo de cavalo e pode-se transformar em um búfalo aquático.

Ketu


Ketu conecta-se com os espíritos dos mortos, chamados de Eggun. Acredita-se que os ancestrais tem a responsabilidade de evocar os padrões éticos das gerações passadas dos clãs.

Ketu é também a serpente arco-íris (chamada Oxumaré ou Òsùmàrè). A serpente arco-íris controla as forças que direcionam movimento, indicam mobilidade e mudança, e é a senhora das coisas alongadas. Òsùmàrè relaciona-se ao cordão umbilical e nossa conexão vindo a este mundo. Representa uma conexão entre nosso mundo e o mundo dos ancestrais, e é geralmente envolvida na facilitação da comunicação entre vários reinos de existência. Òsùmàrè também rege a mudança de sexos e é macho metado do ano e fêmea durante a outra metade.

Ori


Existe um conceito metafísico chamado Ori, que significa a “cabeça”. Ele é o aspecto do indivíduo que indica a própria intuição e destino. Algumas vezes esse conceito personifica-se como um Orixá. Astrologicamente, será visto como lagna/ lagneśa. Os caminhos espirituais advindos da África Ocidental trabalham com o Orixá para criar um caráter e vida balanceado (iwa-pele) para que a pessoa possa se alinhar com seu Ori. O alinhamento com o Ori permite que você viva alinhado com o que é bom para você e evite aquilo que não é. Isso trás paz interna e satisfação com a vida.





sábado, 16 de novembro de 2013

Queridos visitantes, é com prazer que anuncio a inauguração do espaço terapêutico

DHANVANTARI Ayurveda & Yoga

Dia 19 de novembro, terça-feira, 914 Sul, Casa do Maranhão (ao lado do Hospital Planalto).

Programação:

10h10 . Abertura do espaço;
10h30 . Agni Hotra,
cerimônia Védica do fogo;
11h30 . Meditação Zen Budista,
com Luanda Iida;
16h00 . Aula aberta de Kundalini Yoga.
com Shivprem Kaur;
17h00 . Palestra: Ayurveda e Jyotish,
constituições, características e
tratamentos, com Mário Neto e Nirañjana das. Na ocasião será sorteda e realizada uma avaliação de Ayurveda e Jyotish

Degustação da culinária ayurvédica durante o evento;

Todas as atividades são gratuitas!

Informações:
www.dhanvantarinectar.wix.com/danvantarinectar

Jay Krishna dasa - 61 8116 0593 | 61 9962 0111

Nirañjana das (Raphael Silva) - 61 92145735



quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Para que serve a Astrologia Védica?

Você já teve a sensação de que a vida às vezes parece estar pregando uma peça? Já se perguntou de onde poderia ter surgido determinada situação, boa ou ruim, sem que você precisasse (aparentemente) fazer nada para que tal evento acontecesse? Já viu certezas transformarem-se em incertezas e vice-versa? Se sente confuso, sem perspectiva? Ou gostaria de um auxílio para mirar melhor seus objetivos? A Astrologia Védica, Jyotish, é a ciência que estuda a ação (karma) no tempo, e como e quando o resultado de tais ações se manifestam em nossas vidas. O karma pode ser positivo (resultados agradáveis), negativo (resultados desagradáveis) ou misto (trazendo ambos os resultados). A entidade viva encontra-se emaranhada numa rede de padrões, comportamentos e simbolismos, que quando alterados positivamente, podem trazer resultados benéficos, que culminam na capacidade de cada um se tornar responsável por suas ações, construindo um caráter baseado em bons princípios e valores. Marque sua consulta e dê um passo para uma maior compreensão de si mesmo e de seu papel na terra!

Contatos por skype (ralmsilva82) e e-mail (niranjanadas108@gmail.com) 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Os planetas, os gunas, o tempo e a existência material


Este tema - as relações entre os planetas, gunas, o tempo e nossa existência pela ótica dos Vedas e da astrologia védica - é filosófico, profundo e complexo. Para entendê-lo é necessária uma mudança de paradigma, apoiada pelo suporte de uma tradição fidedigna, onde o guru (professor e/ou mestre espiritual) tem um papel fundamental na transmissão do conhecimento. Portanto, trago algumas considerações sobre o assunto, buscando sempre o embasamento escritural e do parampara (tradição), para dar ao leitor uma ideia do que se trata o horóscopo, ou mapa astral e, em última análise, a relação entre entidade viva e energia material.


A entidade viva, ou jiva, sob contaminação material, encontra-se condicionada. Srila Prabhupada, um grande e autêntico mestre de uma tradição espiritual antiga, o Gaudiya vaishnavismo,  explica na introdução de seus comentários ao Bhagavad Gita: “A consciência falsa manifesta-se naquele que se julga um produto da natureza material. Isto é chamado falso ego”. Ou seja, aquelas pessoas (praticamente todos nós no mundo Ocidental) que entendem-se como um produto de interações físico-químicas entre elementos materiais não estão conseguindo compreender o seu verdadeiro eu, e sua verdadeira posição. Este eu, eterno, está em uma eterna relação com o Supremo; entretanto, encontra-se “desconectado” por sua falsa compreensão corpórea de vida atual. Yoga significa união, e a união de que trata o Bhagavad Gita é aquela entre a entidade viva e a Pessoa Suprema, fonte de toda existência, conhecimento e prazer, que possui vários nomes. Em nossa tradição em particular, um de Seus Nomes é Krsna, o todo-atrativo.


A história de como surge o universo pela visão dos vedas é intrincada e complexa. Não faz parte do escopo do presente texto, e será melhor explicada em um artigo posterior. No momento, basta que o leitor entenda o seguinte: nós não somos este corpo material. Nós somos a consciência - que pode encontrar-se manifesta ou imanifesta, mais lúcida ou menos lúcida, dependendo de condições biológicas específicas (dadas pelos gunas, como veremos adiante) - e transmigramos de corpo em corpo, enquanto perdurar o conceito ignorante (o falso ego) de que somos produtos dessa energia material. Assim como a energia material é eternamente temporária, a identificação com ela também o é (pelo menos até o momento em que a entidade viva livra-se do enredamento material, através dos processos de yoga descritos no Bhagavad Gita e em outras escrituras). A ilusão desenvolve-se e vai adiante: além de acharmo-nos o corpo, também acreditamos sermos os donos dos frutos de nossas ações. Assim, nos encontramos com o elemento fundamental do enredamento material - o karma, ou ação.


Como foi dito anteriormente, a entidade viva é eterna, e está eternamente condicionada. Logo, eternamente ela pratica ações, aguardando sempre o seus resultado. Se forem boas ações, ela receberá bons resultados; se forem más, ela receberá resultados ruins; ações mistas trarão resultados mistos. O meio pelo qual esses resultados se manifestam é explicado pelo  sábio Parashara em seu Brhat Parashara Hora Sastra:

Existem muitas encarnações do Supremo Espírito não-nascido,
O responsável pela emancipação das entidades vivas, Vishnu, expande-se em nove grahas (planetas) para dar aos seres vivos os resultados de seu karma (ações);

Os planetas, na astrologia védica, são chamados de grahas. Como avatares de Vishnu, eles são os controladores do karma: nessa vida, recebemos os frutos - bons ou ruins - de acordo com nossas ações passadas, no devido tempo. Um dos significados da palavra graha é eclipse. Logo, os planetas no mapa astral mostram as influências que fazem com que a alma espiritual seja condicionada - eclipsada de sua posição original de pleno conhecimento.

Os planetas são nove, e estão relacionados com os elementos e gunas da natureza material. Os luminares (que contém luz), Sol e Lua, representam a alma e a mente, respectivamente. Marte rege o fogo, Mercúrio, a terra, Júpiter, o ether (vazio que une tudo), Vênus, a água e Saturno o ar. Esses elementos combinados formam a energia material, que é experimentada pelas entidades vivas através dos sentidos, que conectam a realidade material - dual - à mente. Os planetas também associam-se com os gunas, que são explicados por Krishna da seguinte maneira:

Bhagavad Gita, 14.5:

sattvaṁ rajas tama iti
guṇāḥ prakṛti-sambhavāḥ
nibadhnanti mahā-bāho
dehe dehinam avyayam


“A natureza material consiste em três modos — bondade, paixão e ignorância. Ao entrar em contato com a natureza, ó Arjuna de braços poderosos, a entidade viva eterna é condicionada por esses modos.”

Os gunas são os elementos constituintes da energia material. Eles têm uma relação muito próxima com o tempo, pois é através de seu controle que os gunas manifestam a realidade material. Os gunas são três: rajas, sattva e tamas. Rajas, traduzido como paixão, é o modo da natureza responsável pela criação; sattva, o modo da bondade, é o responsável pela sustenção; e tamas, o modo da ignorância, é o responsável pela destruição.  Eles se aplicam a todas às camadas da realidade material. Por exemplo, em relação à consciência, tamas guna representa a pessoa que se encontra em completa ignorância - pode estar em coma vegetativo, alucinando devido à utilização de psicotrópicos, ou simplesmente ausência de qualquer conhecimento, preguiça, sono etc. Rajas guna predominante na consciência indica vários desejos, o sentimento de orgulho, individualismo, arrogância, luxúria e, principalmente,  reforço da ação com desejo fruitivo, garantindo à prisão eterna de nascimentos e mortes. Sattva guna indica uma pessoa satisfeita, feliz e em conhecimento, sem ansiedades e preparada para a emancipação material.

O trio responsável pela vida são os planetas que são infundidos de Sattva Guna, a saber: Sol, Lua e Júpiter. Destes, Júpiter é puro Sattva, e representa o Mestre Espiritual, bem como o Mestre Espiritual Supremo, não contaminado pela energia material. O Sol, que representa a alma no mapa astral, é a constância de Sattva, pois seu movimento é sempre regular, sem alterações. A Lua, que representa a mente, em seu estado exaltado é plena de Sattva, altamente nutritivo - o Soma. Marte, Saturno e os Nodos Sul e Norte são os planetas responsáveis pelo tamo guna, enquanto que Vênus e Mercúrio são rajo guna. Marte quebra, despedaça e perfura; Saturno, adoece, atrasa e envelhece; Os Nodos provocam confusão e obstáculos respectivamente; Vênus é o rajas guna associado à procriação e a criação de entidades vivas, enquanto que Mercúrio é o raja guna associado à criação de matéria - dinheiro e trocas materiais.

Dessa maneira, os planetas criam a realidade material através de seus significados (karakas), e as almas são condicionadas a crer nessa realidade temporariamente manifesta como a única possibilidade de existência. Entretanto, existe uma realidade que está além desta criação, e um dos objetivos do Jyotish, ou Astrologia Védica, é lançar luz sobre a sombra criada pelos gunas na mente, de maneira a aliviar as almas condicionadas do pesado fardo do Karma, auxiliando no caminho pela auto-realização. Isso é feito através de remédios astrológicos específicos para cada pessoa: mantras, yantras, pedras preciosas, pujas - remédios esses que serão tema de outro artigo. Haribol